Diz-me por favor que não estou a ficar velho. Diz-me que se conseguisse arranjar a coragem e tudo o mais que fosse necessário para me levantar e meter conversa com aquela rapariga que dormita a um par de bancos de distância do meu lugar no comboio ela não olharia para mim com um sorriso raiado de ironia e divertimento, por não saber como me dizer que para ela a areia do meu tempo se esgotou, varrida de mansinho pelo vento para a parte da vida situada já para além dos cumes mais verdes.
Diz-mo por favor. Olha: se quiseres mente!
Ou então, melhor ainda, não digas nada e deixa-me ver reflectida na doçura entristecida dos teus olhos a confirmação do que já sei, ainda que para mim seja de um espanto perpétuo descobrir que os anos se escoam em breves segundos de uma relatividade Einsteiniana, descobrir que o tempo foge e se perde e se esconde em cantos do Universo tão esconsos que a simples razão não os concebe nem alcança.
E já agora diz-me, por favor que não é a minha aquela face arredondada e amarrotada por rugas aos cantos dos olhos e da boca que me fita todas as manhãs do outro lado da barreira vítrea do espelho do nosso quarto de banho. Diz-me que não sou eu aquela figura em que não consigo (ou se calhar simplesmente não quero) rever a imagem das fotografias a preto e branco que guardas nos álbuns que dormem nas prateleiras do pequeno móvel da entrada de nossa casa, esquecidos nos seus dosséis de fina poeira.
Diz-mo tudo isso por favor. Ou então cala-te para não me mentires. Mas por favor fica aqui, junto de mim, e aperta-me a mão devagarinho, como se eu fosse apenas menino assustado pelos ecos do teu silêncio.
Diz-me apenas que ficas e por favor, por favor, não me digas mais nada.
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