As casas são coisas que
transcendem a mera materialidade da pedra. São coisas vivas, com corpo e com
alma, um ser feito de paredes que se alinham em padrões e geometrias ditadas
pelo pragmatismo da vivência quotidiana e das suas necessidade funcionais, a
alma composta pela sobreposição dos seres que as habitam. Não é por um acaso
linguístico que dizemos que dizemos gostar ou não gostar desta ou daquela casa.
É pelo sentir emanado das pessoas que a
habitam, pela sua forma de receber, pelo bem ou pelo mal que nos fazem sentir
quando as visitamos.
E se o
corpo da Quinta do Paraíso é modesto, na simplicidade limpa e alentejana das
suas paredes brancas debruadas pelo decoro modesto de barras amarelas a
demarcar a separação entre as paredes e o chão, na decoração frugal e funcional
e na imaculidade da sua limpeza, a sua
alma é grande e dá pelo nome de António Cardoso Casanova, ou mais simplesmente
Toni, espanhol de Palma de Maiorca por
nascimento um perfeito português na forma de receber.
É ele uma
daquelas raras pessoas com quem sentimos uma empatia imediata advinda da
naturalidade dos gestos e pela afabilidade e gentileza da forma como recebe. Na Quinta do do Paraíso não há hóspedes. Há,
isso sim, amigos que aparecem de improviso ou por acerto prévio, recebidos de
braços abertos, com longas conversas ao serão oferecidas na frescura da
noite, sentados sob as ramas das latadas
pejadas de uvas que se erguem na defesa das paredes da casa contra a
inclemência do sol alentejano e temperadas com a oferta desinteressada de copos
de ginjinha suave e doce, e pequeno-almoços de pão cuidadosamente aquecido e
barrados com compotas caseiras que nos remetem para as memórias dos tempos da
nossa meninice onde a sua confecção era ainda uma arte caseira e uma
demonstração de habilidade e carinho pela boa doçaria.
Quem se
hospeda na Quinta do Paraíso é recebido como um amigo e o Toni, esse, sabe
receber tão bem amigos que quem vá por bem não poderá deixar de
sentir menos do que pena por partir e não menos do que vontade de regressar.