sábado, 16 de agosto de 2014

Quinta do Paraíso, Alagoa, Portalegre

As casas são coisas que transcendem a mera materialidade da pedra. São coisas vivas, com corpo e com alma, um ser feito de paredes que se alinham em padrões e geometrias ditadas pelo pragmatismo da vivência quotidiana e das suas necessidade funcionais, a alma composta pela sobreposição dos seres que as habitam. Não é por um acaso linguístico que dizemos que dizemos gostar ou não gostar desta ou daquela casa. É pelo  sentir emanado das pessoas que a habitam, pela sua forma de receber, pelo bem ou pelo mal que nos fazem sentir quando as visitamos.
                E se o corpo da Quinta do Paraíso é modesto, na simplicidade limpa e alentejana das suas paredes brancas debruadas pelo decoro modesto de barras amarelas a demarcar a separação entre as paredes e o chão, na decoração frugal e funcional e na imaculidade da sua limpeza,  a sua alma é grande e dá pelo nome de António Cardoso Casanova, ou mais simplesmente Toni,  espanhol de Palma de Maiorca por nascimento um perfeito português na forma de receber.
                É ele uma daquelas raras pessoas com quem sentimos uma empatia imediata advinda da naturalidade dos gestos e pela afabilidade e gentileza da forma como recebe.  Na Quinta do do Paraíso não há hóspedes. Há, isso sim, amigos que aparecem de improviso ou por acerto prévio, recebidos de braços abertos, com longas conversas ao serão oferecidas na frescura da noite,  sentados sob as ramas das latadas pejadas de uvas que se erguem na defesa das paredes da casa contra a inclemência do sol alentejano e temperadas com a oferta desinteressada de copos de ginjinha suave e doce, e pequeno-almoços de pão cuidadosamente aquecido e barrados com compotas caseiras que nos remetem para as memórias dos tempos da nossa meninice onde a sua confecção era ainda uma arte caseira e uma demonstração de habilidade e carinho pela boa doçaria.

                Quem se hospeda na Quinta do Paraíso é recebido como um amigo e o Toni, esse, sabe receber tão bem amigos que quem vá por bem não poderá deixar de sentir menos do que pena por partir e não menos do que vontade de regressar.